Monologia do ser

Monologia do ser

18 de janeiro de 2024 6 Por amadorblog.com.br

O monólogo precede à ruína.

Ser humano é, também, comunicar-se; e a monologia afasta o homem de sua vocação.

O Jean-Baptist Clamence de Camus corrobora nossa afirmação. O próspero advogado parisiense narra a sua decadência pessoal, financeira, moral e existencial em um brilhante e ensimesmado monólogo de 110 páginas. Nem a experiência pessoal com a desgraça proveniente de uma vida vivida exclusivamente a serviço de si mesmo o libertou do cárcere de si. Apenas uma voz é ouvida no livro cujo título (“A Queda”) nos direciona para o episódio central da monologa desventura humana.

No Éden houve diálogo. Mas a despeito das possibilidades, podemos dizer que a Mulher se envolveu em um monólogo que lhe foi fatal. Tendo o seu próximo, a criação e o próprio Criador a quem recorrer, preferiu tentar resolver sozinha o imbróglio em que se meteu. A Serpente a conduziu, e ela cedeu. No frigir dos ovos, ela passou tempo demais falando sobre Deus e não se dispôs a falar com Deus. Faltou-lhe oração. Monologia Teológica.

Mas a presença da oração não é, necessariamente, a resolução do problema. O Senhor Jesus contou uma parábola sobre um Fariseu que orava em público, com o objetivo de ser visto, e o fazia “de si para si mesmo”. Apesar da sua exaustiva autocelebração, voltou para casa sem o favor do Senhor.

O curioso é que a monologia da qual estamos falando não se dá necessariamente na ausência de um interlocutor ou do diálogo, mas nasce do conforto de uma existência tão centrada em si, tão absolutamente resistente ao outro e ao Outro, tão arrogante e centralizadora, que só dá voz aos grunhidos de um Ego falastrão. Monologia existencial.

“O orgulho precede à ruína.”