Eduardo e Mônica

Um dia repetitivamente comum. Abre os olhos e não quer se levantar. Pega o celular e vê que horas são. Sai de casa com pressa, mas na hora certa. Erra o caminho. Não faz muita diferença, já que na ida o trânsito é bom.

“”Um beijo. Eu te amo. Bom trabalho. Volto às 13:00”.

Deixa a esposa no trabalho, igual a todos os dias.

Na volta para casa, tudo novo de novo. A mesma via expressa – cinza e movimentada. Pensa nos afazeres do dia enquanto dirige automaticamente o seu carro. O estádio do Galo chama atenção, como em todos os dias. Controla a velocidade nos trechos com radar. Prevê o engarrafamento de logo mais. Se irrita.

No rádio, está tocando Eduardo e Mônica. Uma música simples, sobre um homem simples, que encontra uma mulher simples. Se apaixonam, simplesmente. Adquirem hábitos simples. Constroem juntos uma vida simples. Mas nessas férias, não vão viajar. O filhinho do Eduardo está de recuperação.

Enquanto tenta acompanhar o Renato na cantoria, a voz trepida. O nó na garganta anuncia a emoção. Para por um tempo. Volta a cantar. Agora são lágrimas, de verdade. Para de novo. Envergonhado, reprime a emoção. “Que idiota, chorar com uma música dessas”.

Ele então se lembra da frase atribuída ao velho Gilbert: “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns”, teria escrito Chesterton.

Enquanto pensa, lhe vem que talvez a vergonha que sentiu ao se emocionar seja um sintoma. Sintoma de uma doença. Da tentação de fugir do cotidiano. De doentia busca pelo extraordinário. Sintoma da covardia e do medo de se abraçar uma vida simples.

Preciso orar.

“Senhor, faz florescer em meu coração o apreço pelo simples. Me ensina a amar as coisas que são realmente belas. Me dê coragem para abraçar o cotidiano com alegria e permita que eu veja a beleza das coisas comuns”.

“Amém”.

Na volta, o trânsito é ruim. A via expressa está lenta. Deu tempo de pensar nessas coisas.

Graças a Deus.

Agora está tocando Michael Jackson no rádio.